A questão que continua a inquietar a ciência e os pais: com que sonham os bebés?

A questão que continua a inquietar a ciência e os pais: com que sonham os bebés?

“Nem sempre nos lembramos dos nossos sonhos quando acordamos, mas todas as noites sonhamos. E os bebés também sonham? Apesar de inusitada, é uma pergunta recorrente entre os pais que vigiam o sono dos filhos no berço. Porém, a resposta pode não ser a que esperava.

Freud afirmava que os sonhos são por si só um mecanismo que ajuda a libertar as emoções que vivenciamos durante o nosso dia. São um reflexo que nos ajuda (tanto do lado positivo como negativo) a interiorizar o que sentimos. Mas para perceber o que são os sonhos, é importante entender o que acontece enquanto dormimos. No caso dos adultos, o ciclo do sono divide-se em duas fases: a NREM e a REM. A primeira, Non Rapid Eye Movement reparte-se em quatro fases durante as quais o sono vai se tornando gradualmente mais profundo até chegar à fase REM (Rapid Eye Movement) que contabiliza apenas 25 por cento do tempo que passamos a dormir. “Durante esta fase, os nossos olhos mexem-se muito rapidamente e é como se estivessem a processar informação debaixo das pálpebras. É um período em que o nosso corpo está completamente relaxado e é neste momento que os sonhos acontecem”, começa por explicar o psicólogo Paulo Dias à NiT.

O sonho do bebé

Se compararmos com o sono do bebé, estes passam 50 por cento do tempo que estão a dormir em fase REM e a outra metade em NREM. “Associando este período aos sonhos, poderíamos dizer que os recém-nascidos podia passar este tempo todo a sonhar. Mas é difícil afirmar que crianças até aos três anos tenham desenvolvido já essa capacidade”, refere o especialista em psicologia.

À NiT, o especialista admite que existe alguma incerteza sobre esta matéria e que alguns dados apontam que durante a fase REM o cérebro dos bebés pode percepcionar as experiências pelas quais passou, criando, assim, as primeiras memórias.

“Se por um lado há quem defenda a teoria que os bebés têm capacidade para sonhar e que esses são construídos com base nas suas experiências (embora mais limitadas que as de um miúdo mais velho ou de um adulto). Poderão sonhar com elementos que adquirem do mundo externo, como os cheiros, a sensação de calor dos braços da mãe e as texturas”, afirma Paulo Dias. Por outro lado, há quem defenda que é difícil compreender o que se passa no cérebro de um recém-nascido e a forma como irá processar a informação do que está a acontecer.

“Alguns neurocientistas defendem que têm de estar reunidas algumas condições para podermos concluir que um bebé sonha”, adianta o especialista. Temos de ter a capacidade para construir visualmente algo que nos rodeia para depois podermos viver essa dita realidade no nosso sonho. “Isto é uma competência adquirida em miúdos e adultos. Segundo alguns especialistas, os recém-nascidos ainda não têm essa consciência”, acrescenta.

Contudo, isto gera outra dúvida: durante o sono REM — que está comprovado que os bebés também têm — qual será o propósito? “Acredita-se que é um processo de desenvolvimento das capacidades cognitivas, como o processo de comunicação”, responde o psicólogo.

“Aquilo que se sabe é que só a partir dos três anos é que conseguem expressar-se verbalmente sobre o que sonharam. Por isso é que se afirma que só a partir dessa idade é que sonham”, sublinha. E continua: “O que não significa que antes não sonhem. Não sabem é interpretar e expressar-se sobre os sonhos. E não há formas de avaliar aquilo com que o bebé possa estar a sonhar durante o sono REM”.

Quando os bebés se agitam durante o sono estão a sonhar?

Durante o sono podem ocorrer espasmos musculares, como contrair o pescoço, movimentos dos olhos e o esboçar o sorriso. “Estes podem ser três indicadores que algo se está a passar enquanto dorme. Há quem defenda que são sinais que significam que o bebé está num processo de sonho”, diz Paulo Dias. Mas podem ser apenas movimentos de desenvolvimento. “O corpo e o cérebro estão a reconhecer sinais e estão a representá-los como atos de reflexos involuntários.”

A incerteza sobre o que realmente acontece irá continuar, porque ainda não existe um mecanismo que permita avaliar o que esta a acontecer durante o sono dos bebés. “Mas é possível concluir que os bebés manifestam esse mecanismo desde cedo. Os sinais estão lá, sem dúvida alguma”, conclui o especialista em psicologia.”

 

Entrevista à NIT por Catarina Simões (https://bit.ly/3Ku1n87)

Paulo Dias – Neuropsicólogo e Hipnoterapeuta na Clínica Dr. Alberto Lopes

 

 

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