Natal, Ano Novo e miúdos de férias: o trio que ameaça a sanidade mental de muitos pais

Natal, Ano Novo e miúdos de férias: o trio que ameaça a sanidade mental de muitos pais

“Todos os pais sabem o quão stressante é a época do Natal e da Passagem de Ano. Além de terem inúmeras preocupações, têm os filhos a passar as férias em casa, o que por si só aumenta imediatamente os níveis de stress. Primeiro, estão entusiasmados pela visita do Pai Natal e, depois dele chegar, vibram com os novos presentes.

“Em nível de épocas do ano, costumo dizer que o momento das férias escolares geram sempre muito stress aos pais”, começa por explicar à NiT o neuropsicólogo Paulo Dias, da Clínica Dr. Alberto Lopes. “Durante o Natal, além do stress da época, acumulam-se as férias em si”, acrescenta o especialista.

A principal fonte das preocupações são as expectativas que criamos em torno desta altura do ano. Os pais querem dar o melhor Natal e os melhores presentes aos miúdos e, para isso, acabam por ficar sobrecarregados de responsabilidades, tendo muito pouco tempo para descansar. “Dá para perceber que o materialismo invadiu o espírito natalício. Procuramos dar aos filhos mais do que aquilo de que eles precisam”, aponta.

Além disso, preenchem a agenda com todas as atividades possíveis, “para o tornarem memorável”. Levam os miúdos para feiras, escrevem cartas para o Pai Natal, visitam circos e teatros. “Fazem do pouco tempo que têm o máximo que conseguem”, basicamente. Ao mesmo tempo, tentam equilibrar o tempo passado com os miúdos com as horas no trabalho.

Durante as férias dos filhos, os pais também fazem um balanço do primeiro período escolar e, quando as notas ficam aquém das expectativas, o stress aumenta. Para impedir um mau desempenho escolar começam à procura de explicadores, o que implica o gasto de dinheiro que muitas vezes podem não ter, especialmente após comprarem todos os presentes da lista. Com estas preocupações, “esquecemo-nos de todos os fatores fundamentais que criam o espírito natalício”, ou seja, a união de família. “São as experiências afetivas que vão gerar memórias positivas.”

O Natal de 2022 foi ainda mais stressante do que os anteriores. Segundo Paulo Dias, isto aconteceu porque tentámos viver nesta época aquilo que não vivemos há dois anos, devido às restrições. Embora levem os filhos a feiras e diferentes atrações, passam pouco tempo de qualidade porque, quando estão naqueles espaços, os miúdos apenas prestam atenção aos animadores de rua, ao Pai Natal e às diversões.

Uma melhor alternativa é, explica o neuropsicólogo, ler um livro ou brincar com eles lá em casa. “Uma das coisas que sempre digo é que os pais têm de aprender a estar mais presentes com os filhos. Têm de se preocupar menos com a necessidade de alcançarem certas expectativas da época”, explica.

Este nervosismo constante é maior naqueles que têm filhos mais novos. “Nos miúdos pequenos a euforia do Natal é algo comum, está intrínseca nas próprias crianças e elas externalizam muito estas sensações.” A magia da época não desaparece completamente, mas vai, seguramente, diminuindo ao longo dos anos. “Acabam por desenvolver um comportamento mais racional.”

Mas não se preocupe: caso os seus miúdos ainda sejam pequenos, há alguns truques que pode seguir para reduzir o seu stress. “Os pais são os pilares da estabilidade emocional dos filhos. Pais ansiosos geram filhos ansiosos”, afirma. A meditação, controlo da respiração e a prática de exercício físico são grandes aliados ao bem-estar mental. Na verdade, o desporto “ajuda a libertar tensão e stress, e também ajuda a ter um maior autocontrolo.” A qualidade do sono é igualmente importante, e esta ajuda na gestão emocional. “Os pais têm de desligar os gadgets.” Acima de tudo isto, é importante que, caso esteja submetido a um alto nível de ansiedade, procure ajuda profissional para conseguir lidar com as emoções negativas.”

Entrevista à NIT por Eduardo Oliveira (https://bit.ly/3xNkbYw)

Paulo Dias – Neuropsicólogo e Hipnoterapeuta na Clínica Dr. Alberto Lopes

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