O que fazer quando uma criança não quer ver o pai ou a mãe?

O que fazer quando uma criança não quer ver o pai ou a mãe?

Esta questão foi o ponto de partida para uma conversa com o neuropsicólogo e hipnoterapeuta Paulo Dias, das Clínicas Dr. Alberto Lopes.

O neuropsicólogo e hipnoterapeuta Paulo Dias, das Clínicas Dr. Alberto Lopes, defende que nas situações em que a criança se recusa a estar com um dos progenitores, é importante não ceder. “Os pais devem procurar ouvir a criança para entender as suas necessidades e preocupações. No entanto, ouvir a criança não significa que ela deve ter a decisão final.”

O especialista explica também que “é essencial compreender a razão dessa recusa”. “Forçar ou pressionar, sem perceber a causa, pode ser contraproducente e aumentar ainda mais a resistência dos filhos”, avisa Paulo Dias.

O que fazer quando a criança se recusa a ver um dos progenitores? Os pais devem insistir? Impor-se?

Quando uma criança se recusa a passar tempo com um dos pais, especialmente após um divórcio ou separação, é essencial compreender a razão dessa recusa. Há diversos fatores que podem estar na origem desse comportamento, como conflitos familiares, situações traumáticas, sentimentos reprimidos ou influências externas, por exemplo. Forçar ou pressionar, sem perceber a causa, pode ser contraproducente e aumentar ainda mais a resistência dos filhos.

As crianças devem ser escutadas?

Os pais devem procurar ouvir a criança para entender as suas necessidades e preocupações. No entanto, ouvir a criança não significa que ela deve ter a decisão final, mas sim que as suas opiniões são tidas em consideração no contexto das decisões parentais.

E nos casos em que um dos progenitores faz de tudo para impedir a convivência da criança com o outro?

É importante considerar os motivos que possam levar uma mãe ou um pai a ter esse tipo de comportamento, porque podem existir situações delicadas em que o instinto de proteção fale mais alto.

Pode falar-se de alienação parental?

Quando um dos pais interfere na relação da criança com o outro progenitor, sem uma justificação aparentemente sólida, podemos estar na presença de um padrão de comportamento indicativo de alienação parental, que pode ser prejudicial para o desenvolvimento emocional da criança.

O que fazer neste contexto?

Deve ser procurada ajuda psicológica e, em situações mais complexas, o apoio jurídico, com o objetivo de proteger a segurança e o bem-estar emocional da criança. Quando esta recusa da criança é consequência de influências externas, de forma consciente ou inconsciente, isso terá efeitos devastadores no relacionamento da criança com o pai ou mãe.

Quais as consequências?

Esse ambiente, muitas vezes ‘tóxico’, de palavras e comportamentos, por parte de um dos progenitores, pode fazer com que a criança se sinta confusa, ansiosa, triste e manifeste atitudes de raiva ao ser manipulada para rejeitar um dos pais. A médio-longo prazo, isso terá influência negativa no desenvolvimento emocional, podendo prejudicar as suas relações sociais, fragilizar a sua autoestima, afetar o seu desempenho escolar, e em alguns casos, pode resultar em problemas graves como depressão e ansiedade.

O que devem e podem os progenitores fazer para manterem o contacto com os filhos? Baixar os braços e ceder é uma opção?

A regra básica é não desistir, mesmo que o caminho pareça difícil. Contudo, deve existir o respeito e colocar sempre o bem-estar da criança em primeiro lugar. Ao longo do desenvolvimento da criança, deve existir um padrão de comportamentos proativos na manutenção desse contato, com o objetivo de mostrar que, independentemente das circunstâncias, estão sempre presentes e disponíveis. Comparecer nas atividades escolar e extracurricular, manter uma comunicação sincera e aberta para que ele perceba que estará sempre disponível a qualquer momento e procurar ir ao encontro dos interesses dele são exemplos disso mesmo.

O que pode acontecer quando se desiste? Há o risco da criança pensar que o progenitor não se interessa por ele?

Existe sempre esse risco, especialmente quando o pai ou mãe acaba por ceder a essa pressão e desistir do contato com ele. A criança, que não tem a maturidade emocional necessária para compreender a situação, pode sentir-se abandonada ou rejeitada, construindo a crença de que não se preocupam com ela ou não valorizam o seu relacionamento. É essencial que os pais mantenham um esforço contínuo para demonstrar que se preocupam e estão presentes na vida da criança.

Esta criança/jovem pode desapegar-se do progenitor? Que consequências é que isso pode trazer para ele próprio?

A falta de um vínculo saudável com um dos progenitores pode prejudicar o desenvolvimento emocional e social da criança, promovendo dificuldades nos relacionamentos sociais no futuro, bem como fragilizar a sua capacidade de confiar e formar vínculos significativos com os outros. A construção destas ramificações duradouras na sua vida adulta pode afetar de forma negativa a sua saúde mental, felicidade e satisfação geral com a vida. É fundamental que os pais compreendam que quando se separam, deixa de existir o casal e passa a ter de existir uma parentalidade consciente que deve priorizar o bem-estar emocional da criança. Quando encontram obstáculos desafiadores, devem procurar ajuda terapêutica com o objetivo de ajudarem a criança e a eles próprios a encontrar as melhores estratégias para lidar com esses mesmos desafios.

Entrevista LifeStyle Ao Minuto por Ana Rita Rebelo

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