Como lidar com a perda de um filho?

Como lidar com a perda de um filho?

Dia da Mãe é, no geral, uma data feliz que junta famílias, mas nem todos o celebram da mesma forma. Aliás, são muitas as mulheres que, infelizmente, já perderam filhos, mas também muitos os filhos que já não têm as mães. Por isso, é importante saber que tipo de apoio oferecer, nestas ocasiões tão delicadas.

Tendo isto em conta, o Lifestyle ao Minuto falou com Paulo Dias, neuropsicólogo e hipnoterapeuta na Clínica Dr. Alberto Lopes – Psicologia & Hipnose Clínica.

Procurar ajuda especializada, mas também um ‘ombro amigo’ entre os indivíduos mais próximos são algumas das recomendações do especialista. Ao falar sobre este tipo de datas, nomeadamente, o Dia da Mãe, afirma que “cada uma deve fazer o que é melhor para ela mesma”.

Qual é o impacto de perder um filho, especificamente, nas mulheres?

Nada pode preparar uma mãe para a dor de perder um filho o que torna essa experiência em algo extremamente doloroso e traumático para qualquer mulher. Confrontada com essa dor, a mãe poderá sentir uma sobrecarga emocional, como tristeza, desespero, raiva, culpa e solidão. Essas emoções podem ser ainda mais intensas nos primeiros dias, semanas e meses após a perda, quando a dor é mais aguda. Numa sociedade que muitas vezes espera que as mulheres assumam um papel de cuidadoras primárias dos seus filhos, isso pode ser particularmente desafiante para elas que têm de lidar com a sua própria dor e luto.

Há quem diga que pais e mães expressam e sentem o luto de forma diferente. É algo que acontece realmente? Porquê?

Os pais e as mães diferem nos seus papéis ao longo do desenvolvimento dos seus filhos e, portanto, é normal manifestarem comportamentos e atitudes diferentes no processo de luto.

A conexão entre mãe e filho começa muito antes do nascimento. Desde a vida intrauterina, a mãe é a fonte de amor e proteção do bebé, desenvolvendo um vínculo emocional mais forte com o seu filho, portanto, irá sentir a perda de uma forma mais intensa comparativamente ao pai. Elas tendem a expressar mais abertamente a sua dor e podem ter mais dificuldade em recuperar o equilíbrio emocional após a perda de um filho.

É fundamental que cada pessoa seja respeitada na forma como lida com a perda e receba o apoio e a compreensão necessária para ultrapassar esse momento difícil.

Todas as mães que perdem um filho devem ser acompanhadas? Que tipo de ajuda devem procurar?

De uma forma geral, as mães que enfrentam este tipo de situação devem procurar ajuda terapêutica. É uma ferida emocional profunda que pode requerer mais do que tempo ou suporte familiar para cicatrizar. Existem algumas opções de ajuda terapêutica, contudo realço duas estratégias que na sua complementaridade têm demonstrado eficácia no processo de luto. Por um lado, a hipnose clínica no contexto psicoterapêutico pode ajudar a lidar com as emoções reprimidas e a cicatrizar essa ferida emocional consequência da perda, e por outro, participar em grupos de apoio específicos para pais que perderam os filhos irá promover uma maior consciencialização de que não estão sozinhos nessa “jornada de cura”.

Quais são as formas mais saudáveis de lidar com o luto? O que aconselha? Funcionam a longo prazo?

Existem algumas formas saudáveis de lidar com o luto que podem funcionar a longo prazo, pois ajudam a aceitar a perda e lidar com as emoções que acompanham esse processo:

  • Permitir-se sentir todas as emoções que vêm com o luto, como a tristeza, raiva, culpa, negação e até mesmo felicidade pelas memórias positivas;
  • Procurar apoio em amigos e familiares que podem ouvir e ajudar a passar por essa fase;
  • Promover o autocuidado de forma a reduzir os níveis de ansiedade durante o luto;
  • Aceitar a mudança que a morte pode trazer. O luto pode ser uma oportunidade para repensar a vida e descobrir novas perspetivas;

Como é celebrar datas como o Dia da Mãe quando isto acontece? É possível ajudar as mães? Como?

Para uma mãe que perdeu o seu filho, esta data pode potencializar o sentimento de vazio deixado pela sua ausência e saudade, por isso, será sempre uma data difícil de comemorar.

Oferecer apoio emocional e compreensão pode ajudar minimizar esse sofrimento. Não há um tempo certo para se recuperar da perda de um filho, e cada mãe precisa do seu espaço para lidar com os seus próprios sentimentos, mas se algumas mães desejam evitar falar sobre ele, outras precisam de falar e partilhar as suas memórias, por isso, é importante respeitar o seu espaço e ouvir com atenção o que possam precisar de falar.

Que consequências, na saúde física, é capaz de ter um acontecimento deste género?

Quando a pessoa está bloqueada, naquele momento específico, e a dor é persistente no tempo, tanto a saúde mental como a física podem ficar comprometidas. Embora cada um possa lidar de forma diferente, e nem todos manifestarão os mesmos sintomas, podem ser verificados perturbações no sono, depressão, ansiedade, abusos de substâncias, dor crónica, enxaquecas, alterações na alimentação que promovem a perda ou excesso de peso.

Também é importante lembrar que muitos não têm as mães para celebrar estes dias. Que tipo de apoio se consegue dar?

A perda de alguém querido e significativo como uma mãe pode ser difícil de aceitar, mas com o tempo aprendemos a conviver com ela. Oferecer um ‘ombro amigo’, ou convidar essa pessoa para uma atividade que possa desviar a sua atenção desse acontecimento, podem ser estratégias simples que ajudam a ultrapassar essa data de forma mais tranquila.

Como ajudar amigos nestas situações?

O simples facto de estar presente, ouvir e oferecer apoio emocional irá ajudar a preencher, nem que seja por alguns momentos, essa ausência. Evite minimizar a dor dessa pessoa, mas esteja lá para ela, mostrando empatia e compaixão. Quando perceber que a dor é persistente e está a influenciar a sua esfera social, familiar, profissional, deve incentivar a procura de ajuda especializada para que assim consiga ultrapassar o luto.

Acha que o melhor seria não assinalar estes dias?

Esta é uma pergunta complexa de resposta incerta. Cada mãe deve fazer o que é melhor para ela mesma. O importante é que a mãe se sinta confortável com a decisão que tomar e que possa encontrar formas de honrar a memória do seu filho de uma maneira que seja significativa e reconfortante para ela.

por Margarida Ribeiro: Lifestyle NoticiasAoMinuto (https://bit.ly/45FVxbW)

Paulo Dias – Neuropsicólogo e Hipnoterapeuta da Clínica Dr. Alberto Lopes

 

Compartilhar esta publicação

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

5 × 4 =

× Como posso ajudar?